Zarrilli, Phillip B. et al., « Preface: Interpreting performances and cultures », Theatre Histories an introduction, USA, Routledge, 2006, pp. 17-31.
O prefácio procura convidar à leitura da obra, alertando para a impossibilidade de cobrir toda a história mundial da performance, teatro e drama e empreendendo por isso uma nova abordagem geral, tendo em conta a multiplicidade de culturas, métodos de análise e críticas, relacionando todas as histórias do mundo. A estrutura da obra é aqui anunciada em IV partes que nos falam das performances e teatro nas culturas orais e escritas; do teatro e a cultura impressa; da relação teatro/meios culturais modernos; e da performance e teatro na era das comunicações à escala global. Partes estas que se fazem acompanhar por estudos de caso.
O entendimento da história da performance e teatro ocidental é neste prefácio antedito como dificultado devido à maioria do discurso dos historiadores teatrais ser anterior à alteração dos limites ocidentais entre performances e teatro no séc. XX, por este motivo parte da obra assenta sobre as performances culturais pois: “All theatrical events are also cultural performances” (pág. 20) que decorrem num dado momento e espaço no tempo e têm estruturas e conteúdos próprios. As performances particulares de uma cultura ou sub-cultura podem adquirir mais ou menos flexibilidade, dado que: “Performance, like societies and cultures, are not static but always in the process of being reinvented.” (pág. 21). Performances outrora findadas ou fora de moda podem ser redescobertas, refeitas ou reinventadas num período posterior. As performances teatrais igualam-se às culturais quanto a quadros espácio-temporais, estruturas e conteúdos.
Tenta-se dar a perceber como se escreve a história, tendo em conta a alteração do papel do historiador em relação à visão positivista. O historiador é apresentado como formulador de paradigmas, a partir de fontes primárias e secundárias, e colocador de hipóteses plausíveis que podem ser ou não posteriormente validadas. Isto, a meu ver faz com que o conhecimento que nos chega não seja a realidade histórica, mas sim a reconstrução feita pelo historiador dessa mesma realidade. O conhecimento histórico é caracterizado pelo aparecimento de novas teorias que obrigam a uma reinterpretação das fontes existentes, sendo as teorias encaradas como: “(…) the explanatory bridges we construct in order to be able to better link the past and present.” (pág. 26). As próprias questões que surgirão ao longo da obra são explicadas como resultado desta reinterpretação de teorias protectoras de privilégios, como teorias sobre género ou sexualidade no teatro.
Aborda-se também a representação de formas de performance de outras culturas, tendo em conta: “(…) the linguistic, aesthetic, religious, and/or sócio-cultural dimensions that distinguish a particular historical period and culture.” (pág. 28). As performances e o teatro surgem aqui como detentores de uma reflexão e comunicação próprias. Os antigos meios de comunicação são apontados como importantes, num mundo em que as tecnologias da comunicação toldam o nosso pensamento, pelo que o aparecimento de um novo meio causa alterações ao nível das performances e teatro.
O prefácio apresenta desta forma a obra na sua diferença em relação a outras e por isso merecedora de interesse, dado que nos fornece uma interpretação das várias histórias da performance, teatro e drama.
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